terça-feira, 30 de março de 2010

Flexível como o dinheiro permite

Montanha disse...
"E aí Márcio, tudo bem? Entrei por acaso em teu blog quando estava "buscando" preço de um sax selmer, e gostei bastante de seus "textos". Tenho um sax alto yamaha yas 100 que comprei já usado e gostaria de comprar um yamaha ou selmer novo, já que agora tenho condições e principalmente tempo para tocar. Apesar de ser paranaense (interior), estou morando temporariamente em Manaus (a trabalho). Ficarei grato se você me der informações a respeito da compra de um selmer. Você tem alguma dica para eu comprar aí na Europa, ou mesmo no Brasil por um "preço melhor"?"

Comprar um "novo" saxofone é um passo importante, principalmente para quem tem duas coisas significativamente significativas: "tempo e condições”, raras nos dias de hoje. Esse foi um comentário escrito por um simpático leitor em um texto anterior, vou tentar responder e ajudar como puder.

Como escrevi ontem estive fazendo algumas pequenas viagens nos dias em que meu professor Wilson Annies esteve aqui em ocasião do meu concerto de formatura. Um dos lugares que já havíamos combinado de ir, antes mesmo de ele chegar aqui, foi Bamberg uma pequena cidade há 230 km de Munique. Na verdade não fomos até lá somente para fazer turismo, muito próximo da cidade está uma das maiores lojas de instrumentos musicais da Europa, bem no meio do nada. Uma coisa muito normal por aqui é comprar pela internet, não que no Brasil também não seja, mas aqui é algo realmente do dia-a-dia. Não sei se compramos mais porque é mais seguro ou é mais seguro porque compramos mais. O fato é que quase tudo que preciso que não seja roupa e comida (também possível) compro pela internet. Até hoje tive pouco incomodo com isso. Thomann, segundo o meu professor aqui da Alemanha, é maior que a própria Selmer. Eu ainda não fui na Selmer, mas sei dizer que a variedade de escolha que encontrei nessa loja é realmente enorme e não somente para saxofone, mas para tudo que envolva música. Vale a pena entrar no site e conferir, um dos idiomas disponíveis é o português.

Conversei com o gerente do setor de sopros e ele falou que importa para a América Latina, mas como já escrevi em um texto anterior, tem todo aquele problema de impostos quando o instrumento chega no Brasil e é isso na verdade que torna o instrumento realmente caro. Fiquei sabendo que já existe no Brasil alguma coisa acontecendo politicamente no sentido de reduzir ou eliminar os impostos para a importação de instrumentos. Vamos ver o que acontece.

Com relação à escolha da marca penso que existe um consenso que Selmer é um dos instrumentos que fica no topo da lista dos mais desejados. O único problema é que um Selmer deveria ser testado antes da compra e isso não pode ser feito no Brasil, já que as lojas não têm estoque. A compra acaba ficando um pouco arriscada. Um Yamaha, modelos profissionais, já são mais “padronizados” no sentido de que os instrumentos não vão apresentar tanta diferença entre si, ou quem sabe nenhuma. Penso que a diferença entre esses dois casos é muito pessoal e depende muito do que cada um espera. Posso somente falar de acordo com a minha experiência, já que toquei muitos anos Yamaha modelo 62, tanto alto como tenor. Particularmente gosto muito desse saxofone, é um instrumento simples, no sentido de ser muito prático como por exemplo para fazer pequenas regulagens, com um som um pouco mais “claro” e com um custo bem abaixo do Selmer. Fiquei com o meu Selmer serie II porque ele me proporciona um som mais “escuro” que é o que procuro, mas hoje poderia repensar isso tudo.

Além dessas opções, mais conhecidas no Brasil, recomendo ainda o Yanagisawa modelo A-9930 e também o Keilwerth Sx 90R. Sei que vai ser ainda mais difícil alguém se interessar por essas outras duas marcas uma vez que são mesmo praticamente desconhecidas no Brasil. Mas como já falei, espero com esse espaço também conseguir esse tipo de resultados e quem sabe possa um dia levar algo assim comigo em uma de minhas idas para o Brasil.

Ajudem a divulgar meu blog, quem sabe essa seja uma maneira de centralizar a busca de informações de maneira neutra, que na verdade é a minha maior intenção. No fim todos saem ganhando.

Um grande abraço e até a próxima

Marcio Schuster

segunda-feira, 29 de março de 2010

A vida continua

Depois de tão longo tempo sem escrever acabei perdendo a prática e quem sabe alguns leitores. Dia 10 de março, o meu concerto final, foi melhor do que o esperado e sim fui aprovado em mais essa etapa da minha vida. O que esse titulo me garante? Na prática nada, mas espero que com o conhecimento adquirido eu possa fazer o meu trabalho de maneira mais competente.

Para um saxofonista as chances se reduzem bem como aumentam, depende do ponto de vista. O fato de o saxofone não ser um instrumento de orquestra, muito embora existam obras que o incluam, nos resta procurar as próprias oportunidades ou entrar no mundo da docência, que na verdade acaba sendo a melhor maneira de garantir o sustento. Por outro lado o fato de o saxofone ser considerado um instrumento do jazz, possibilita trabalhar nesses diferentes universos, mas sendo bem franco não acredito que o público de jazz seja maior que o da música erudita. Então infelizmente o saxofone acaba muitas vezes sendo um instrumento bastardo simplesmente por ser tão versátil. Como dizem, as vezes menos é mais.

As oportunidades de trabalho com saxofone na Europa são tão boas como as do Brasil. Sei que isso pode chocar muita gente, principalmente àqueles que tem ainda a ilusão de que aqui tudo é melhor, mas trabalhar com música não é fácil em lugar nenhum e não é diferente por aqui. Claro que como as condições sociais de maneira geral são melhores (para quem trabalha legalmente), acaba que no todo a situação fica um pouco mais cômoda. Comprar instrumentos, partituras e toda essa parte de consumo é mais fácil. Para quem deseja vir para cá e tocar em bares até o fim da vida, como realização profissional, isso até pode ser interessante, mas não se iluda com relação a caches, dono de bar é igual em qualquer lugar do mundo.

Por isso, concretamente falando, as possibilidades se resumem em realizar o seu próprio projeto, como quarteto de saxofone, banda, orquestra de câmara e afins, dar aulas em escolas ou em universidade (e encarar a concorrência européia) ser solista (e viver disso?) ou casar com uma mulher rica. Eu sei, você deve estar dizendo, mas isso tudo eu já sei, pois bem, eu só queria deixar claro que aqui somos também músicos como no Brasil. A diferença é que a concorrência não é brasileira. E escrevo isso sem nenhum desprestígio com relação ao talento brasileiro. Mas quem começou estudando por aqui, com os melhores professores, melhores instrumentos e condições das mais privilegiadas, acaba tendo algumas vantagens com relação a nós.

Vale a pena estudar aqui? Sim e muito, em primeiro lugar pela experiência de vida, e se as outras coisas não funcionarem como o previsto já por essa valeu muito a pena.

Para o meu concerto, como já escrevi em um texto anterior, tive o privilégio de receber a visita do meu professor Wilson Annies que veio inclusive com seu filho. Foram dias muito especias. Queria deixar aqui o meu agradecimento e respeito ao meu professor e grande amigo. No próximo texto escrevo sobre um dos lugares que visitamos e aproveito pra responder uma pergunta de um novo leitor.

Espero que essa semana possa colocar a gravação do concerto inédito do compositor Nikolai Brücher realizado no meu concerto final. Falando nisso dia 29 faço, com a percussionista Kana Omori, (em breve estaremos no Brasil) a estréia de mais uma obra dedicada a nosso trabalho, escrita pela compositora Jelena Dabic.

Grande Abraço e uma ótima semana

Marcio Schuster

domingo, 7 de março de 2010

palheta+leite= palheite

Queridos leitores. Acho que o saxofone é o instrumento com mais mitos e histórias folclóricas que existe na face da terra! Quem toca ou quem já tocou sabe do que eu estou falando. Eu já li tanta besteira por aí que as vezes penso que devem ser sinais do apocalipse! O pior de tudo é usar da ignorância das pessoas (no melhor sentido da palavra) como arma para ensinar mentiras. Mas o que fazer, o espaço está aberto, se os que sabem não o fazem, alguém o tem que fazer. Mas como já disse seria de mal gosto tentar dar aulas por aqui, mas se alguem quiser perguntar, tiver alguma dúvida, claro que me disponho a ajudar, se eu puder responder. Tenho um novo leitor, o nome dele é Jessé Rafael. Ele me perguntou se é possível aprender saxofone sem professor. Em primeiro lugar quero agradecer a confiança do Jessé em fazer essa pergunta pra mim, e responder a luz dos meus conhecimentos. A resposta é tão simples como a pergunta, a não ser que você seja um gênio, não! E por quê? Bom, eu não sei o que diria a revista universal, mas o acompanhamento de um profissional no caso da música é a garantia de não desistir em duas semanas.

Acho que existe muita gente por aí tentando provar o contrário, gostaria muito de ver os frutos dessa geração...ou talvez não. Existem exceções? Sim, mas eu por exemplo não seria uma delas. Não falo isso somente para àqueles que desejam ser "solistas famosos", mas ter um professor é valorizar o profissional da música e portanto promover e incentivar a sua carreira, aprender a ter disciplina no estudo do instrumento, não aprender com vícios além muitos outro que você pode pensar . Fazendo isso você vai garantir que o teu "futuro" como músico vá um pouco além de tocar somente "Summer Time" a vida inteira para impressionar a namorada. Em algum momento, quando a técnica já está de alguma maneira entendida é possível desenvolver-se sozinho, mas aprender desde o começo sem ter uma orientação é permitido somemente para àqueles que moram sozinhos em alguma uma ilha no meio do oceano.
Mas como comecei falando sobre folclore vou citar alguns deles, como por exemplo ferver a palheta no leite, colocar talco nas sapatilhas, ou mesmo água, dar banho de ácido no saxofone para abrir o som, e tantos outros mais que ouvi nessa vida, alguém conhece outros? Dizem inclusive que saxofonistas beijam bem...veja só.

Na verdade essa coisa toda vem do fato de que não está clara a definição do saxofone como um instrumento clássico, como foi a ideia original do inventor (acredite se quiser) ou popular. Então cada um se sente no direito de inventar qualquer mentira e vender como verdade, ainda bem que estamos em um país livre. No fim ninguém sabe em quem acreditar. Mas tenho o meu prognóstico para o Brasil, ao menos nesse sentido. Em 20 anos a coisa vai mudar. Se olhamos pra trás vemos que já mudou e pra melhor. Hoje temos cursos de saxofone em algumas universidades e escolas superiores e inclusive com professores de altíssimo nível como é o caso da UFMG com o solista Dilson Florêncio, somente para dar um exemplo. Quem já fez algum curso com ele sabe do que estou falando.

É isso aí, vamos mudar o mundo! Quem me conhece sabe que minha tendência é para a música assim chamada "clássica", mas quando falamos em ensinar saxofone existe somente duas coisas: o certo e o errado. Eu não ensino um estilo de música, mas sim, como tocar de maneira que possibilite que o aluno seja capaz de tocar qualquer estilo, seja ele pagode ou clássico. O importante é fazer música e de maneira mais competente possível.
Nada muito concreto por hoje, mas espero que ajude a alguém a encontrar uma luz no fim do túnel. Na próxima vida, mesmo que não acredite nisso, vou tocar contra-fagote.

Infelizmente ainda nevou hoje por aqui e não foi pouco, não aguento mais...ao menos não esse ano.

Abraços, saudações e divulguem meu blog =)

Marcio SCHUSTER

terça-feira, 2 de março de 2010

Para os saxofonistas

Quando comecei esse blog ele se chamava "Saxofone na Alemanha". Depois de alguns dias esse título me pareceu um tanto limitado. Não quero escrever sobre o saxofone na Alemanha e muito menos somente para saxofonistas. O "Saxofonista na Alemanha" quer escrever algo mais do que "somente" sobre o saxofone, mas é claro com um enfoque especial na música e ou cultura.

Mas hoje queria escrever sim algo de interesse para os saxofonistas. Antes disso, preciso informar que o inverno, ao menos para mim, já é algo do passado. Tivemos alguns lindos dias de sol. Como uma de minhas diversões é pedalar, pude aproveitar e ir para "Starnberger see". A "cidade" Fica a 25 km da porta da minha casa. Engraçado é que nós brasileiros chamamos quase tudo de cidade, eles aqui chamam isso de vila, "dorf". Lá existe um lago extremamente grande. Na vila moram muitos milionários, ao menos essa é a informação que eu tenho. Fora isso o lugar é maravilhoso, um dia é pouco pra conhecer tudo. Vou prometer novamente colocar fotos em breve. Na semana que vem estará aqui em Munique meu professor de saxofone do tempo da Belas Artes (um privilégio, ele vem especialmente para meu concerto final) e espero poder leva-lo até lá, mas dessa vez sem bicicleta, aí poderei colocar algumas fotos por aqui.

Mas o assunto de hoje é palheta: Difícil falar sobre isso em um só texto, mas de qualquer maneira não faço outra coisa a não ser dar a minha opinião à luz da minha pouca experiência (sem falsa modéstia). Todos sabem como é complicado o tema. Compro todo mês duas caixas. Uma para o soprano e uma para o alto. Uso no momento "Vandoren tradicional" número 3 para alto e 3.5 para soprano. Em uma caixa encontro 2 ou 3 que podem realmente ser usadas em concertos, mas mesmo assim, estudo com todas elas. Escrevo um número em cada palheta e uso uma a cada vez que estudo, ou as vezes no mesmo dia várias. O que acontece ao fazer isso? Eu vou, em primeiro lugar, "conhecer" todas elas, saber quais são as boas e quais não, e em segundo, por consequência desse "revezamento" vou aumentar a vida útil delas, uma vez que não exijo de uma só palheta os resultados que espero. E não existe milagre. As palhetas são feitas de bambu, ou seja, uma fibra natural o que portanto impossíbilita o controle da qualidade da vibração em 100%, mesmo que o corte seja exatamente igual,as palhetas jamais poderiam apresentar os mesmos resultados. Por isso em uma caixa encontramos tanta diversidade.

No ano passado esteve um representante da "Selmer" aqui na universidade. Ele trouxe consigo além de saxofones as palhetas "Rico Reserve" e fez uma bela propaganda. Ganhei tantas palhetas que não precisei comprar por um bom tempo. Toda a explicação e suposta melhoria no corte pode ser lida em qualquer embalagem da marca. Não sei se a propaganda foi boa, ou se realmente a palheta é melhor, mas o fato é que comecei a usar, e me agradou muito o resultado. Na primeira vez que estive no Brasil levei algumas e fiz propaganda também. De alguma maneira elas são mais homogêneas, mas tão homogêneas quanto caras, praticamente o dobro do preço da "Vandoren". No fim das contas resolvi voltar para a "Vandoren", que "burramente" começou a colocar uma embalagem ridícula envolvendo cada palheta. Coisa que deixa a palheta mais cara e no fim das contas não tem nenhum resultado prático. Tudo isso na tentativa de conservar o bambu das diferentes condições climáticas. Mas uma vez a embalagem aberta...já não adianta mais nada.

Há alguns meses me foi apresentada uma outra marca a "Légère", uma palheta de material sintético. Sempre fui contra e critiquei muito esse tipo de palheta. Na verdade o saxofone já tem sem nenhum esfoço uma tendência a ter um som metálico e estridente, ainda mais para àqueles que insistem em usar boquilha de metal, e com palhetas como "Fibracel" ou "Bari" a coisa fica ainda mais grave. Mas como a insistência foi grande acabei experimentando. Posso dizer que me surpreendi com o resultado. Não é a mesma coisa, a sensação ao tocar é outra, mas é possível acostumar-se. O que posso dizer é que vale a pena experimentar e tirar então suas próprias conclusões.

Ainda não vou arriscar para o meus próximos concertos. Em breve espero poder ter mais tempo e falar com mais autoridade sobre o assunto.

Alguém poderia me dizer se existe essa marca no Brasil?

Obrigado pelos e-mails e comentários. Desculpem-me por não ter escrito por alguns dias, mas meu concerto já está aí.

Abraços e uma boa semana a todos,

Marcio SCHUSTER